Semana passada fomos presenteados com o curso de Investigação em Violência de Gênero, ministrado por policiais do Departamento de Miami, Flórida, EUA. O curso foi custeado pelo Consulado dos EUA, graças à articulação e interesse da Acadepol. O curso faz parte do Projeto "Polícia Comparada", onde já foram realizados cursos com a Noruega e o próximo vai ser com a França.
Encantada com o interesse, a dedicação e os recursos que eles dispõem para tratar a questão. A comparação entre Brasil e EUA é difícil. Os policiais Pierre Cardonne (oficial), Latrice Payen e Moise Joseph nos disseram que na cidade de Miami há, em média, um policial para cada 25 habitantes, não há a divisão entre polícia civil e militar, embora haja a divisão de patrulheiros, investigadores e peritos.
Notamos outras diferenças, como a base nacional de dados de criminosos, atualização de endereços de todos os habitantes (o morador se mudar de endereço e não o atualizar, sofre uma multa). Os dados são de acesso a qualquer policial em todo o país. Ainda, ficou claro que são aplicados os princípios e diretrizes de polícia comunitária. No Brasil também, entretanto, o nosso material humano não tem perna suficiente para estar mais presente na comunidade como gostaríamos de fazê-lo.
O curso foi ministrado por dois homens e uma mulher. Ver homens falando sobre violência de gênero, abraçando a causa, como o que ocorre também com os policiais das DEAMs (Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher), principalmente, é algo há se pensar. O combate da violência de gênero não é problema de mulher, isso eles ressaltaram, já de início. Disseram "não se deve dizer que é coisa de mulher, não o é". Nesse sentido, disseram que deveriam ter mais homens no curso. Havia poucos porque foi prioritariamente destinado às DEAMs, onde todas as titulares são mulheres e a maioria dos agentes também são mulheres. Apesar dos parcos recursos e de pessoal, eles saíram bastante seduzidos com o trabalho feito pelo Brasil, a estrutura da Acadepol, pelo trabalho que realizamos aqui no RS, nas delegacias de polícia especializadas.
Muito se falou a respeito da violência de gênero, das formas de prevenção, combate, das diferenças das legislações. Entretanto, a violência contra a mulher é igual em todo o mundo, com causa eminentemente cultural (machismo). Nesse sentido, somos democraticamente iguais.
Questão interessante discutida foi a que diz respeito à segurança dos policiais, no sentido de que os atendimentos de violência domésticas são "os mais voláteis e perigosos para os policiais" devido à "intensidade das emoções", deve-se ter muita atenção ao local, quem é o agressor, se há armas etc.
Para finalizar, deixo para reflexão o ciclo da violência doméstica: o abuso, gritos, menosprezo, ofensas, agressões; a negação: "foi só um empurrão", "não te machuquei", "você estava bêbada"; a lua de mel, promessas falsas, presentes, desculpas; a calma: começa a crer que vai ficar tudo bem e a tensão crescente: "pisar em ovos", cuidado com o que fala, chegada da tempestade e novamente o abuso. Em briga de marido e mulher, nós metemos a colher, sim!